Para onde foram as crianças que brincavam nas ruas, nas praças e em terrenos baldios? Não mais existem. Ou, dizendo mais claramente, tais hábitos desapareceram. As infâncias que vieram depois da infância da minha geração acontecem por outros caminhos. Mesmo em cidades do interior, elas são outras bem diferentes daquelas de outrora.
No passado, não tínhamos os games, ao menos, não tanto. Nem havia internet e, muito menos ainda, o grau de violência e perigo que, hoje, as cidades comportam. Havia, então, mais possibilidades de ter crianças brincando por aí, andando pela cidade, uma cidade de pouco trânsito, de lentidão, de horas demoradas, de espaços saudavelmente vazios. Não havia, pois, todo esse clima de cisma, pressa, perigo e medo que hoje há.
Éramos os "donos do pedaço", com nossas ingênuas regras, nossos jogos e amigos, nossos sonhos e projetos. E, claro, TV e cinema, como formas de ampliação do nosso universo, faziam parte, embora o cinema ainda tivesse um classificação etária (censura) muito dura, impedindo-nos que ver filmes que hoje passam na TV.
Gostávamos mesmo era de sair de casa, ir ao encontro uns dos outros, em ruas e praças, frequentar o rio, subir em árvores, enfim, praticar a liberdade a céu aberto. Jogar bila (bola de gude), jogar futebol, inventar carrinhos reciclando materiais que iriam para o lixo, "roubar" cajaranas ou seriguelas, fazer cavalos e espadas com talos de carnaubeira, enfim, a lista era até longa.
Havia, também, as brigas. Obviamente, indesejáveis. Mas, talvez, algumas delas, especialmente para os meninos, tenham servido como forma de crescimento. E aqui não me refiro a alguma coisa muito grave, apenas as rusgas menores entre uns e outros. Isto, porém, não era o principal.
Lembro-me de quando esperávamos um filme que a TV anunciava com bastante antecedência. Aquilo era um acontecimento. E, também, lembro-me dos filmes no cinema. De alguns que vi, vem-me a mente "Bernardo e Bianca" ("The Rescuers" - USA, 1977), o qual alcancei ali no início dos anos 1980. Mágico e divertido, bem à maneira das crianças que éramos. E o "Superman", de 1978, com Christopher Reeve, eterno em minha lembrança.
Aqui, o título "infância perdida" pode até parecer negativo, referir-se a algo de que, necessariamente, não falo. Ao mentos, não é o foco central deste relato. Tomei-o para significar duas coisas: em primeiro lugar, a minha infância, que se foi; em segundo, essas infâncias de depois, as quais respeito, mas, ao que parece, sofreram certa alienação de suas possibilidades mais interessantes. As crianças de hoje, como o restante das pessoas, estão sob o terror de uma sociedade muito problemática. Devem ter seus sonhos e brincadeiras, mas, certamente, ser-lhes-ia melhor uma cidade (uma cultura geral) mais afeita à paz. E, nisso, estão a depender do "louco" mundo dos adultos.
E, se posso imaginar para além da razão e do real, concluo dizendo que, de alguma forma, a infância que vivemos permanece, já que o ser humano é feito de camadas. Tal o que foi, não, mas como uma essencial e alegre luz, lá fundo da alma, onde, às vezes, nos faz chorar de saudades e, noutras, nos alegra com alguma passagem puramente poética e feliz.
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O Caderno Livre é um blog em estilo pessoal, informal, leve, sem maiores pretensões. Algo à maneira dos bloguinhos antigos, os do início desta aventura de blogar. Webston Moura, seu administrador, é brasileiro do estado do Ceará, natural de Morada Nova, mas mora em Russas, no Vale do Jaguaribe. É Tecnólogo de Frutos Tropicais e poeta.
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