Entre um pequeno espaço onde ficam as plantas, na frente da casa, e a calçada vive um sapo do tipo cururu. Este é o seu universo. Só, move-se, cuidadosamente, evitando humanos, escapando aos cães da rua, permanecendo longe dos automóveis, pegando insetos e aproveitando a água que cai dos vasos.
Na madrugada, sorrateiro e sábio, sobe a calçada e arrasta-se para dentro do recipiente onde colocamos água para os gatos. É onde, suponho, encontra um pedaço de paraíso. Pela manhã, entretanto, é "expulso", tendo nós que lavar o recipiente e enchê-lo novamente com água limpa.
Rhinella marina, seu nome científico, é, como diz a Wikipedia, "um gênero de sapos verdadeiros nativos das partes neotropicais do México, da América Central e do Sul." E, claro, isso não importa para ele, só para nós. Ele, aquele de que falo, apenas vive, sobrevive, como tudo o que vive ou, dizendo doutra forma, existe, seja organicamente vivo ou seja um mineral, uma pedra, a água, o fogo, as estrelas.
Penso se os bichos pensam. E penso que sim. De alguma forma, imagino que sim. E penso no que eles pensam, além de simplesmente responderem a estímulos e a instintos. O que nos diriam, se falassem? Que ideias nos trariam? Fariam reclamações e reinvindicações? Caso tivessem possibilidade de comunicação direta conosco, estaríamos obrigados a respeitá-los inteiramente. Nós, humanos, não nos esconderíamos mais na "ignorância" de não entendê-los.
O sapo cururu, aquele que vive entre as plantas e a calçada, caso pudesse falar, ao me ver, talvez me pedisse algo. Comida, um lugar melhor, água, proteção. Ou, então, me comunicasse alguma dor e me pedisse remédio. Diria, talvez, da sua solidão, de como veio ali parar e como se perdeu dos parentes. E, assim, eu me veria mais nele e o veria mais em mim, seres de sentido que seríamos, seres da grande teia da vida.
Mas, para mim, aprendiz do mistério da existência, ele não precisa falar. Eu já observo sua "cidadania", seu direito de existir e tentar realizar a sua meta. E o tenho como irmão, a lembrar o que o místico cristão Francisco de Assis nos ensinou.
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O Caderno Livre é um blog em estilo pessoal, informal, leve, sem maiores pretensões. Algo à maneira dos bloguinhos antigos, os do início desta aventura de blogar. Webston Moura, seu administrador, é brasileiro do estado do Ceará, natural de Morada Nova, mas mora em Russas, no Vale do Jaguaribe. É Tecnólogo de Frutos Tropicais e poeta.
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